sexta-feira, 12 de setembro de 2008

O SURTO - PARTE I


Lucila foi dormir cedo, eufórica. Ela nem acreditava que o cara que tinha pedido o telefone dela na boate no sábado ligou. Tudo bem que o cara demorou 5 dias pra ligar e resolveu telefonar só na quinta à noite, quando ela já tinha perdido todas as esperanças. Mas considerando que segundo as estatísticas, só 82% dos caras que pedem o telefone ligam depois, ela achou o máximo. Ainda mais devido às circunstâncias, já que como típico curitibano ficou olhando e dando sorrisinhos a noite toda, mas só foi falar com ela mesmo quando viu que ela estava na fila pra pagar a consumação e o máximo que disse foi se apresentar – Prazer, meu nome é Gustavo – (quando ela quase desmaiou) e pedir o telefone dela, o que ela achou um absurdo, uma grosseria, mas não resistiu, porque ele realmente era o SEU NÚMERO, e deu o telefone. E ainda por cima o número certo!! Era muito bom pra ser verdade o fato do cara ser exatamente o seu número, ter pedido seu telefone e ligado depois!

Muitos pensamentos e nada de sono... Ela tinha que dormir cedo, afinal tinha que estar linda e absolutamente sem olheiras no encontro do dia seguinte com Gustavo. “E se ele estava bêbado e achou que eu fosse mais bonita? E se quando ele passar aqui ele me achar feia e sem graça? Será que ele lembra da minha cara? Será que eu lembro da cara dele?? Ai meu Deus... Bom, ele era moreno, alto, de barba rala. Mas não lembro o formato do rosto... Nem da cor dos olhos... Preciso reparar na cor dos olhos, nunca reparo na cor dos olhos... Ainda bem que ele vai ligar amanhã pra combinar os detalhes, assim eu pergunto com que carro ele vem me pegar e vai ficar mais fácil reconhecê-lo, porque eu não lembro muito da cara dele.” E como um pensamento puxa outro, nada de sono... Lucila acendeu o abajur de seu criado mudo, olhou no relógio, eram 00h42... Começou a ficar nervosa e pensar “preciso dormir, preciso dormir”. E nada do sono vir.

Resolveu ler um pouco... Leu uma entrevista da Danuza Leão numa revista sobre relacionamentos, achou super legal, a sua cara... Mas nada de sono... E cada vez mais nervosa com a sua aparência do dia seguinte. Começou a ter dor de cabeça... Levantou, foi até o banheiro, pegou a cartela de remédios pra dor de cabeça, abriu a torneira e pensou “Não vou tomar o remédio com água da torneira, a última coisa que eu preciso amanhã é de uma diarréia”. Foi até a cozinha, tomou o remédio com água mineral.

Voltou pra cama. Nada de sono... Ligou a televisão pra ver se dava sono, mas estava passando o maior clássico de todos os tempos: “O Diário de Bridget Jones”. Pensou: “Caraca, preciso desligar a tv, senão vou assistir este filme até o final... Tá, vou assistir só até a parte da briga do Mark Darcy com o Daniel Cleaver”. Cumprindo o acordo feito consigo mesma, assistiu o pedaço do filme, mas o pensamento continuou no encontro do dia seguinte... E já eram 2h30 da manhã. Pensou “Pronto, agora eu preciso dormir, mais do que nunca, senão adeus Gustavo, ele vai me achar uma feia amanhã”. Pensou em ligar pra Ju, sua amiga de todas as horas, mas achou muito tarde, ela com certeza estava dormindo. Mas por outro lado, ela tinha obrigação de aturar os surtos da Lucila, já que quando a Ju brigava com o namorado, era sempre no ombro de Lucila que Juliana ia afogar as suas mágoas.

Decidida, Lucila levantou-se novamente, pegou seu celular, ligou pro número da amiga, mas aquela maldita voz atendeu e mandou deixar recado na caixa postal. Desligou o telefone, foi até a janela, acendeu um cigarro. Agora f...!!! Com insônia, com a obrigação de dormir cedo e sozinha no mundo de seus devaneios, sem ninguém pra falar que ela estava divagando demais e muito ansiosa por causa de um cara que ela mal conhece. “PQP!!! Vou ligar na casa da Ju”. Pegou o telefone, discou... mas pensou melhor e desligou. Realmente era muito tarde, já passava das 3 da manhã. Distraidamente olhou para a sua mão e viu o cigarro queimando, quando tudo pareceu pior: era o último cigarro que poderia fumar antes do encontro. Será que ele fumava? Ou teria horror à fumantes? Apagou rapidamente o cigarro decidida a só fumar depois do encontro do dia seguinte. Sem cigarro, sem Ju. Um pouco de bom senso pairou no ar, enfim.

Resolveu então apagar a luz e pensar em outra coisa, nos prazos que tinha no dia seguinte, nas provas que tinha que corrigir... Mas esses pensamentos sempre acabavam sendo substituídos pelo encontro do dia seguinte. Pensou, pensou, pensou... até quase o dia seguinte, mas acabou dormindo uma ou duas horas depois. (continua)

2 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Tenho um palpite: o cara não vai ligar no dia seguinte mas a Lu, um tanto chateada, quando der 22h00 vai ligar e ele vai dizer que teve um imprevisto...