Às 2 horas em ponto, Malaquias chega à casa de Lucila. Aciona a campainha e escuta um “Tccchhhaau mãããe!”, era Lucila se aproximando do portão. Ao abrir o portão, Lucila da de cara com um voyage amarelo, totalmente brega, cheio de frescuras que os “boyzinhos” colocam em seus carros. Do lado do motorista, para fora do carro, estava Malaquias, com aqueles óculos de sol “made in Paraguay” de lentes espelhadas coloridas, óbvio que para combinar com o carro.
Como que saindo de um transe, Lucila acordou do sonho. “Meu Deus! O que é isso? A visão do inferno? Calma! Você não liga para essas coisas. Ele é um cara legal. Um tanto quanto exótico, mas você pode conviver com isso. Não! Não posso! Pode sim! Não posso! Pode!”.
No mesmo momento em que Lucila travava essa batalha com seu “eu”, Malaquias pensava: “Puts! Me dei bem! Começo no cineminha... depois só Deus sabe...”
LUCILA – Oi.
MALAQUIAS – E ae! Ta bonita ein? Vamos?
LUCILA – Obrigada (“nem pense que se deu bem”). Vamos sim.
Entrou no carro de Malaquias, e logo ele colocou um som mais romântico. Clima perfeito para um encontro romântico. Pena que Lucila não estava mais no clima. O caminho todo até o shopping ela só tentava se esconder dentro do carro para não ser reconhecida. Quando percebeu que não tinha jeito, relaxou. Não poderia fazer mais nada.
Chegaram ao cinema as 2:20 hs. Lucila já tinha se acostumado com o estilo de Malaquias, nem lembrava mais do carro que ficou no estacionamento e do óculos que estava no bolso.
Logo na entrada da bilheteria, viram que o filme escolhido só iniciaria as 5:30. Lucila não queria passear muito com Malaquias a tira colo em pleno domingo num shopping badalado da cidade. Então propôs:
LUCILA – Olha Mala! Tem o “Dois dedos de água e muito gelo”. Se corrermos da pra gente pegar essa sessão e ainda sair antes do inicio da próxima. Vemos o Jogos Mortais outro dia...
MALAQUIAS com cara de quem tinha tido uma ótima idéia – Já sei! Vamos ver esse então.
LUCILA – Ok então.
MALAQUIAS – Duas para o “Dois dedos...”... Aliás!! Uma meia e uma inteira.
Malaquias virou-se para Lucila e cochichou com cara de ‘sou esperto’ - “Tenho uma carteirinha falsificada. Hehehe”
Lucila achou o fim da picada, mas enfim, fazer o que. Tirou sua carteira da bolsa para pagar a sua inteira, quando Malaquias a interrompeu:
MALAQUIAS em alto e bom som – Deixa comigo. Você paga o lanche.
MOÇA DO CAIXA – Quinze reais senhor.
Pegaram os tickets e se dirigiram à lanchonete do cinema. Malaquias se adiantou e disse: “Dois mega combo Box, com refrigerante extra grande e mais aquelas duas balinhas ali óóóó.”
Como combinado Lucila pagaria o lanche. Enquanto isso Malaquias escolhia o que queria, e se divertia com a compra.
MOÇA DO CAIXA – Trinta e cinco reais.
Lucila tirou da carteira com custo o dinheiro e pagou. “Tudo bem. Respire. Calma. Já acaba esse encontro. Divirta-se. Ele não ta fazendo por mal. Você vai curtir o filme.”
Entraram no cinema. Malaquias insistiu para escolher o local que sentariam. Estranhamente um lugar bem próximo da saída. As luzes diminuem. Filme prestes a iniciar. Então Malaquias revela seu plano.
MALAQUIAS – Lu, quando tiver quase no fim desse filme a gente sai, finge que vai no banheiro e entra na sala que ta passando o Jogos Mortais 3.
LUCILA – Ããã ???
Lucila não acreditava no que estava ouvindo. No primeiro encontro o cara age dessa maneira??? Então resolveu intervir.
LUCILA – Não Mala... eu nunca fiz isso. Deixa..
MALAQUIAS antes de Lucila terminar – Não da nada! Já fiz isso muitas vezes.
LUCILA – Mas.. mas...
MALAQUIAS– É só sair ali dar uma volta no banheiro e entrar na outra sala...
Lucila calou-se. Daquele momento em diante só conseguia assistir a um filme que passava em sua cabeça. Chamava-se “Pegos com a boca na botija”. No filme, o gerente do cinema aguardava a policia com o casal (ela e o mala) em uma sala fechada. Uma luz oscilante na sua cara. E uma voz gritando “Confesse! Vocês queriam burlar a lei.”.
Passaram quase 2 horas e o filme que Lucila assistia ainda não tinha terminado, mas o filme que passava na telinha sim. Malaquias mais que depressa levantou, pegou no braço de Lucila e a puxou.
MALAQUIAS – Vamos... Temos que correr.
Lucila, a contra gosto levantou-se e o seguiu. Como que as preces de Lucila tivessem sido atendidas, as portas do cinema estavam trancadas, e apenas a saída de emergência estava aberta para que as pessoas saíssem da sala.
Saíram para um corredor longo. De um lado o shopping, do outro, o desconhecido. Malaquias fez que ia sugerir para ir de encontro ao desconhecido quando Lucila desabafou:
LUCILA – Chega Mala... Quero ir para casa. To cansada. Odiei o filme. A pipoca tava uma merda. O refrigerante sem gelo. Eu não entendi porra nenhuma do filme. E eu odeio desonestidade!
Malaquias não entendeu o surto de Lucila, mas percebeu que realmente ela estava falando sério. Na esperança de ainda se dar bem, levou Lucila para casa, que ao sair do carro fechou a porta como quem lacra a porta de uma geladeira velha.
Lucila, daquele dia em diante, prometeu nunca mais sair com qualquer cara que fosse mala, sobretudo aqueles que já trazem no nome a palavra “mala”.
Fim.
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