terça-feira, 30 de setembro de 2008

NINGUÉM MERECE - PARTE I

Comecinho de namoro. Tudo era lindo!!! Finalmente Lucila estava namorando. Ela nem acreditava!!! “Até que enfim desencalhei!!”, pensava ela... “Será que dessa vez vai durar pra sempre???” Tentava afastar os pensamentos negativos... afinal ESTAVA NAMORANDO (com todas as letras maiúsculas!)

Dessa vez era com Marcelo. Um cara super legal! Contando pra Ju, ela o descrevia: “Juuuuuu, ele é tudo de bom! Acho que estou apaixonada! Ele é bonito, inteligente, tá na segunda faculdade (teologia, mas ela preferiu omitir essa informação da sua amiga crítica), engenheiro em uma multinacional e gosta de natureza. Meio bicho grilo na verdade. Mas é bom variar um pouco. Estou cansada daqueles nossos amigos advogados almofadinhas!” Aquele jeitinho PIMBA[1], pimbíssimo aliás (usava tênis bamba e tudo), tinha conquistado o coração carente de Lucila. E causado a preocupação de Juliana, afinal, não sabia até que ponto a amiga agüentaria essa pimbisse toda...

Já tinha rolado um jantar na casa dele e um almoço na casa dela. “Agora é oficial, já posso mudar meu status no orkut”, pensou Lucila.

E lá foram os pombinhos para a primeira viagem juntos. Lucila pegou o namorado (NAMORADO, isso mesmo, com todas as letras!!!) na casa dele no sábado pela manhã. Tudo bem que ela adorava homens super cavalheiros e de preferência motorizados, mas como era uma mulher independente e dona de si (tudo mentira!) nem ligou em ter que viajar com seu próprio carro... enfim, iria fazer tudo certo pra ver se dessa vez esse NAMORO durava mais do que 3 meses (conhecidamente o “prazo de validade da garota”) Foram para a praia, escutando os CDs minuciosamente escolhidos por Lucila para a viagem.

Chegaram no apartamento dela na praia. Descarregaram as coisas e foram pra praia. Um sol escaldante, Lucila lá estirada no sol e Marcelo do seu lado. Os dois tomando uma cervejinha gelada. Tudo estava muito bom pra ser verdade!! Conversa legal, assuntos inteligentes, alguns beijinhos gostosos! Ai, como era bom estar acompanhada!!!

Lá pelas 4 da tarde resolveram almoçar. Andaram até um restaurantezinho bacana na beira da praia. Quando vieram os pratos, o casal (isso mesmo, CASAL!!!) estava com muita fome. Lucila serviu-se de uma saladinha. Quando viu o prato que Marcelo fez, ficou feliz em ter pego a saladinha antes dele, pois 95% da comida que veio para o “casal” estava no prato dele.

Marcelo então começou a comer, vorazmente. Lucila nunca tinha reparado até então, mas Marcelo comia fazendo um barulhinho esquisito e de boca aberta. Impossível ela não ter reparado antes aqueles modos horríveis. “Deve ser a fome”, pensou Lucila.

Não que ela fosse fresca ou qualquer coisa parecida... mas era... exigente! Sua mãe sempre a criticava ante tamanha exigência, e ela já pensava: “Lembra do que a mãe fala... nenhum homem é perfeito! Se for achar defeito em todos eles, vai morrer solteira!” Repetia mentalmente a frase, como se fosse um mantra indiano para conseguir superar a situação.

Após o almoço, Lucila e seu novo namorado, voltaram à beira da praia. Lucila esticou sua canga na areia e ficou tomando mais um solzinho enquanto Marcelo foi dar um mergulho. Lucila começou a imaginar novamente a cena grotesca do almoço, seu namorado comendo de boca aberta e fazendo barulho... Mas como sempre fazia quando algo ruim vinha à sua mente, Lucila tentou afastar esses pensamentos... Repetia o mantra mentalmente... Começou a pensar em outras coisas, no vestido de festa que teria que comprar pro casamento da sua amiga, no bronzeador novo que tinha comprado que ia deixá-la com a cor do verão, afinal, nada poderia estragar aquele final de semana romântico... e dá-lhe repetir o mantra...

Marcelo voltou do mar, sentou-se ao lado de Lucila e ficaram curtindo o sol, até o finalzinho da tarde.


[1] Abrviatura de pseudo intelectual metido à besta.

(continua)

domingo, 28 de setembro de 2008

BURLANDO A LEI - Parte II (final)

Às 2 horas em ponto, Malaquias chega à casa de Lucila. Aciona a campainha e escuta um “Tccchhhaau mãããe!”, era Lucila se aproximando do portão. Ao abrir o portão, Lucila da de cara com um voyage amarelo, totalmente brega, cheio de frescuras que os “boyzinhos” colocam em seus carros. Do lado do motorista, para fora do carro, estava Malaquias, com aqueles óculos de sol “made in Paraguay” de lentes espelhadas coloridas, óbvio que para combinar com o carro.


Como que saindo de um transe, Lucila acordou do sonho. “Meu Deus! O que é isso? A visão do inferno? Calma! Você não liga para essas coisas. Ele é um cara legal. Um tanto quanto exótico, mas você pode conviver com isso. Não! Não posso! Pode sim! Não posso! Pode!”.


No mesmo momento em que Lucila travava essa batalha com seu “eu”, Malaquias pensava: “Puts! Me dei bem! Começo no cineminha... depois só Deus sabe...”


LUCILA – Oi.

MALAQUIAS – E ae! Ta bonita ein? Vamos?

LUCILA – Obrigada (“nem pense que se deu bem”). Vamos sim.


Entrou no carro de Malaquias, e logo ele colocou um som mais romântico. Clima perfeito para um encontro romântico. Pena que Lucila não estava mais no clima. O caminho todo até o shopping ela só tentava se esconder dentro do carro para não ser reconhecida. Quando percebeu que não tinha jeito, relaxou. Não poderia fazer mais nada.


Chegaram ao cinema as 2:20 hs. Lucila já tinha se acostumado com o estilo de Malaquias, nem lembrava mais do carro que ficou no estacionamento e do óculos que estava no bolso.


Logo na entrada da bilheteria, viram que o filme escolhido só iniciaria as 5:30. Lucila não queria passear muito com Malaquias a tira colo em pleno domingo num shopping badalado da cidade. Então propôs:


LUCILA – Olha Mala! Tem o “Dois dedos de água e muito gelo”. Se corrermos da pra gente pegar essa sessão e ainda sair antes do inicio da próxima. Vemos o Jogos Mortais outro dia...

MALAQUIAS com cara de quem tinha tido uma ótima idéia – Já sei! Vamos ver esse então.

LUCILA – Ok então.

MALAQUIAS – Duas para o “Dois dedos...”... Aliás!! Uma meia e uma inteira.


Malaquias virou-se para Lucila e cochichou com cara de ‘sou esperto’ - “Tenho uma carteirinha falsificada. Hehehe”

Lucila achou o fim da picada, mas enfim, fazer o que. Tirou sua carteira da bolsa para pagar a sua inteira, quando Malaquias a interrompeu:


MALAQUIAS em alto e bom som – Deixa comigo. Você paga o lanche.

MOÇA DO CAIXA – Quinze reais senhor.


Pegaram os tickets e se dirigiram à lanchonete do cinema. Malaquias se adiantou e disse: “Dois mega combo Box, com refrigerante extra grande e mais aquelas duas balinhas ali óóóó.”


Como combinado Lucila pagaria o lanche. Enquanto isso Malaquias escolhia o que queria, e se divertia com a compra.


MOÇA DO CAIXA – Trinta e cinco reais.


Lucila tirou da carteira com custo o dinheiro e pagou. “Tudo bem. Respire. Calma. Já acaba esse encontro. Divirta-se. Ele não ta fazendo por mal. Você vai curtir o filme.”


Entraram no cinema. Malaquias insistiu para escolher o local que sentariam. Estranhamente um lugar bem próximo da saída. As luzes diminuem. Filme prestes a iniciar. Então Malaquias revela seu plano.


MALAQUIAS – Lu, quando tiver quase no fim desse filme a gente sai, finge que vai no banheiro e entra na sala que ta passando o Jogos Mortais 3.

LUCILA – Ããã ???


Lucila não acreditava no que estava ouvindo. No primeiro encontro o cara age dessa maneira??? Então resolveu intervir.


LUCILA – Não Mala... eu nunca fiz isso. Deixa..

MALAQUIAS antes de Lucila terminar – Não da nada! Já fiz isso muitas vezes.

LUCILA – Mas.. mas...

MALAQUIAS– É só sair ali dar uma volta no banheiro e entrar na outra sala...


Lucila calou-se. Daquele momento em diante só conseguia assistir a um filme que passava em sua cabeça. Chamava-se “Pegos com a boca na botija”. No filme, o gerente do cinema aguardava a policia com o casal (ela e o mala) em uma sala fechada. Uma luz oscilante na sua cara. E uma voz gritando “Confesse! Vocês queriam burlar a lei.”.


Passaram quase 2 horas e o filme que Lucila assistia ainda não tinha terminado, mas o filme que passava na telinha sim. Malaquias mais que depressa levantou, pegou no braço de Lucila e a puxou.


MALAQUIAS – Vamos... Temos que correr.


Lucila, a contra gosto levantou-se e o seguiu. Como que as preces de Lucila tivessem sido atendidas, as portas do cinema estavam trancadas, e apenas a saída de emergência estava aberta para que as pessoas saíssem da sala.


Saíram para um corredor longo. De um lado o shopping, do outro, o desconhecido. Malaquias fez que ia sugerir para ir de encontro ao desconhecido quando Lucila desabafou:


LUCILA – Chega Mala... Quero ir para casa. To cansada. Odiei o filme. A pipoca tava uma merda. O refrigerante sem gelo. Eu não entendi porra nenhuma do filme. E eu odeio desonestidade!


Malaquias não entendeu o surto de Lucila, mas percebeu que realmente ela estava falando sério. Na esperança de ainda se dar bem, levou Lucila para casa, que ao sair do carro fechou a porta como quem lacra a porta de uma geladeira velha.


Lucila, daquele dia em diante, prometeu nunca mais sair com qualquer cara que fosse mala, sobretudo aqueles que já trazem no nome a palavra “mala”.


Fim.

sábado, 27 de setembro de 2008

BURLANDO A LEI - Parte I

Foi no aniversário de uma amiga que Lucila conheceu Malaquias. Sim! Esse era o nome dele. Muita gente queria saber o que se passava na cabeça de uma mãe e um pai ao dar o nome de Malaquias para um filho, afinal ele seria o eterno “Mala” da galera. Apesar do nome antiquado, Malaquias se mostrava charmoso, engraçado, gente fina e o melhor: solteiro em busca de uma namorada. Era tudo o que Lucila queria!


Lucila se encantou, e após tanto tempo sem namorado, ela pensou: “Hummm... Acho que vou investir nesse tal de Malaquias. Quem sabe não é ele?!”. Então jogou todo seu charme e conquistou o moço. Trocaram e-mail, telefone,

msn, endereço, CPF, RG, orkut, e todas as maneiras possíveis de se encontrar novamente.


Cansada de suas expectativas nunca serem atendidas, Lucila nem esperava que ele realmente a procurasse. Porém, para sua surpresa, as 8 da manhã do dia seguinte, uma mensagem no celular já a esperava. Era de Malaquias. Ignorou a hora meio imprópria e pensou: “E não é que o cara escreveu mesmo?”. Na mensagem dizia: “Oi Lu, que tal um cineminha hoje a tarde?”


Aquilo era demais para ela! Fazia 4 horas que ela tinha saído do bar, e o Malaquias já estava convidando para um cinema? Ok! Cinema no primeiro encontro não é o melhor dos programas, afinal o objetivo é interagir, mas relevou, afinal toda vez que pensava nos defeitos, se julgava exigente de mais razão pela qual continuava sozinha. Lucila respondeu a Malaquias que adoraria, e que ele ligasse após o almoço para combinarem.


Algumas horas depois, toca o telefone de Lucila. Era Malaquias.


LUCILA - Alo?

MALAQUIAS - Oi Lu. É o Mala.

LUCILA – Oi Mala, tudo bem? Muito cansado da balada de ontem a noite?

MALAQUIAS – Que nada! To pronto para outra já! E ae? Vamos no cinema hoje?

LUCILA – Eu adoraria Mala... e não sei se você tem alguma sugestão já, mas eu queria muito assistir ao Jogos Mortais 3...

MALAQUIAS – Então... era esse mesmo que eu queria assistir também...

LUCILA – Mas então... como faremos?

MALAQUIAS – Eu te pego ai na sua casa. Que horas?

LUCILA – Que tal às 2 horas?

MALAQUIAS – Fechado! Até daqui a pouco então. Beijos lindinha.

LUCILA – (Ai ele me chamou de lindiiinha....) Beijos querido.


Malaquias era tudo de bom! E ainda carinhoso! Lucila só pensava em não deixar o novo gatinho escapar! Lançou mão de um belo banho, perfuminho básico, maquiagem básica, e uma batinha básica. Porque mostrar já de cara suas gordurinhas mal localizadas, não é mesmo?


Enquanto isso, Malaquias dava um geral no seu carro para impressionar a moça. Já imaginava Lucila como mãe de seus filhos, como a nora que a mãe pediu a Deus, como a mulher ideal.



Continua...

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

O INACREDITÁVEL ACONTECE - PARTE II (final)

E não é que era verdade de Walter mesmo?? O tal do Sidney sabia até a roupa que Lucila estava usando neste fatídico dia numa cidadezinha qualquer do interior... Quem diria... E não é que o tal de Sidney era legal mesmo? E não é que era bonito?? Se não fossem os eventuais e imperdoáveis errinhos de português durante os papos, seria perfeito demais. Ela voltava a mentalizar aquele mantra da mãe dela (“Lucila, se você for exigente demais, vai acabar solteira”) e sentiu-se a Ana Paula Arósio descoberta por um olheiro num mercadinho obscuro da vida...

E papo vai, papo vem, flertes virtuais pra cá, elogios pra lá... E Lucila passou a conversar diariamente com seu admirador secreto. A Ju, é claro, tinha levantado a vida inteira do cara! Tinha descoberto, idade, amigos em comum, se era solteiro, vagabundo cafajeste, ou qualquer coisa parecida... e dizia pra Luci:

Juliana - Guria, ao que parece tá tudo certo com ele... Bonitinho, já teve namorada firme, já putiou com metade das garotas da cidade (afinal, em Quixeramobim qualquer meia boca fazia sucesso!), trabalha numa empresa da cidade que presta serviços pro governo... enfim, acho que dá pra encarar!
Lucila – Ai guria, tomara né? Não agüento mais essa minha vida de solteira... as vezes me sinto tão abandonada...
Juliana – Que nada amiga! Vc vai ver! Dessa vez vai dar tudo certo!
Lucila – É que vc vc fala TODAS as vezes né Ju?

E as duas caem na gargalhada, afinal a vida amorosa de Lucila estava pra lá de conturbada.

Duas semanas depois do primeiro contato virtual Lucila e Sidney acharam que estava na hora de um contato real e imediato. Sidney avisou que estaria indo pra Capital e que gostaria muito de encontrar com ela.

Marcaram numa boate da moda, entupida de gente, assim Lucila poderia ir embora caso não gostasse do admirador secreto, se ele tivesse mau hálito ou qualquer coisa do gênero... Afinal ainda estava achando tudo muito bom pra ser verdade. Intimou Juliana a ir junto e ambas foram ao encontro do rapaz.

Lucila, quando chegou, logo avistou Sidney encostado no bar, tomando uma cerveja. E não conteve o comentário:

Lucila – Juuu, Inacreditavelmente ele é mais bonito pessoalmente!!! Mais alto do que parece nas fotos, um pouco mais forte...
E Juliana completa – E com uma cara de cafajeste irresistível! ahahahahaha

Luci foi, então, falar com seu admirador. O cara era realmente gente boa. E nem precisou muito papo pra Sidney pegar Lucila de jeito... Além de tudo isso, o cara beijava muuuuito!!! E tinha uma pegada muito forte!!!

Muitos beijos e muitas vodkas depois, veio a proposta indiscreta por parte de Sidney. Lucila ficou em dúvida... A Ju já tinha ido embora, eles não tinham amigos em comum (a exceção do Walter, que era mais amigo da Ju do que dela), não havia pessoas conhecidas na boate... enfim resolveu aproveitar a chance e fazer uma loucura!!! Ainda mais porque ele era irresistível!!! Não tinha como dizer não prum Deus grego daqueles... tinha que aproveitar a chance!!!

Foram pro apartamento do amigo de Sidney, onde ele estava hospedado e convenientemente o amigo viajando. Lucila tentando afastar suas perturbações mentais: “que loucura... mas eu sou uma pessoa adulta, com 26 anos, pago minhas contas... mas o que ele vai pensar de mim?... mas eu não devia ter bebido... sei que não agüento quando eu não bebo.. mas eu também estou precisando dar um up na pele, no humor... aaaaaaiiiiiiii quantos “mas” agora já foi... “

Eles estavam no elevador... altos beijos... Rolava uma química perfeita entre os dois. Sidney era ainda mais bonito sem roupa... E não demorou muito pra Lucila perceber isso. Realmente foi uma noite daquelas!!!

Lucila então depois de uma noite muito intensa pegou seu carro e foi embora. Pela primeira vez na sua vida estava desencanada se o cara ia ligar ou não... Na verdade estava feliz, sentindo-se plenamente satisfeita... nem sabia se queria que ele ligasse... Acendeu um cigarro, ligou o rádio... de longe via o sol nascendo e pensou: “E tudo por uma ida a um mercadinho de quinta na PQP comprar bebida...”.
fim

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

O INACREDITÁVEL ACONTECE - PARTE I

Lucila está no escritório, trabalhando normalmente num dia comum, quando alguém a adiciona no msn. Como ela não conhece o e-mail, resolve não aceitar, pois correria o risco de infectar toda a rede do escritório caso fosse um vírus.

No mesmo momento, um amigo de Juliana, que Luci também conhecia, a chama no msn.

Walter – Oi Lucila, tudo bem?
Lucila – Tudo e você, Walter?
Walter – Escuta uma coisa: Ninguém de diferente te adicionou no msn hoje?
Lucila - Ué??? Como vc sabe??? - (Ela absolutamente surpresa, pensando se o Walter teria criado um pseudônimo e a adicionado com outro email... essas idéias malucas costumavam passar pela cabeça dela... ) E continuou falando com ele - uma pessoa desconhecida me adicionou, mas eu pensei que fosse vírus e não aceitei.
Walter – É um amigo meu. Ele está apaixonado por você.
Lucila – Ã????? Como assim? Quem é ele? Da onde que ele me conhece? – (na verdade a única pergunta que queria fazer era: bonito ou feio? Mas resolveu deixar para um pouco mais tarde...)
Walter – Lembra aquela vez que você foi pra Quixeramobim na casa dos pais da Ju?
Lucila – Lembro, mas nem saí de casa o final de semana.
Walter – Saiu sim.
Lucila – Não saí. Tenho certeza! Passamos o fim de semana inteiro bebendo e conversando! A única saída que eu dei foi ir até o único mercadinho da cidade comprar bebida com Juliana.
Walter – Então saiu!!
Lucila – Como assim??? Não to entendendo... – já absolutamente confusa a essa altura da conversa, decidiu que precisava da Juliana e abriu outra janela do MSN:

Lucila - JUUUUUUUUUUUUUUUUUU
Lucila – Pelamordedeus fala comigo
Lucila pede atenção de Juliana
Lucila – uóuóuóuó
Lucila – Ju presta atenção: olha a gravidade do problema: o Walter me chamou no MSN, dizendo que tem um amigo dele apaixonado por mim! Primeiro: vc tem que descobrir se é verdade, segundo: eu vou tentar descobrir o nome do cara pra ver se vc conhece, eu PRECISO saber quem é o cara, terceiro: eu tenho que saber se ele é bonito ou feio!
Lucila – Ju, vou voltar a falar com o Walter, quando voltar me chama
Lucila – Guria eu to surtando, volta logo

E volta a falar com,Walter:

Lucila - Olha Walter, vc ta falando sério??? Pq se é uma brincadeira, é de muito mau gosto fazer isso com uma mulher carente como eu.
Walter – Não é brincadeira, Luci J Esse meu amigo te viu no mercado aquele dia lá em Quixeramobim e desde então vem perguntando de você pra mim.
Lucila – Putz... pára de brincar comigo, Walter.
Walter – Tô falando que não é brincadeira, Lucila. Aceite o cara pra você ver.
Lucila – Qual o defeito dele?
Walter – Como assim?
Lucila – Não, o cara deve ter obesidade mórbida, ser cego e ainda por cima careca....
Lucila pensa: agora ele vai me dizer que é brincadeira, ou senão vai me responder se ele é bonito ou feio.
Walter – Se você está achando que ele é feio, eu não sou a pessoa mais apropriada pra falar, mas ele não é feio não. Pelo menos não é o que a mulherada fala.
Lucila – Ele tem orkut?
Walter – Tem sim. Procure lá. Sidney Machado.

Dois minutos depois:

Lucila – Walter, achei o cara... Mas fala comigo direito: É sério mesmo? Esse cara moreno, alto, bonito e sarado gostou de mim?
Walter – É verdade sim. E se vc achou tudo isso dele, melhor aceitar ele no msn.
Lucila – Ok então. Desculpe não ter acreditado em você, mas é que essas coisas não acontecem todos os dias.

Ela volta para o MSN, rezando para que o convite ainda esteja lá, para que o Walter não estivesse brincando e para que aquele cara realmente estivesse a fim dela! “CARACA!!! Isso não acontece todo dia... Preciso falar com a Juliana! Cadê essa criatura quando eu mais preciso???” Pensa Luci, enquanto acha o convite do tal do Sidney e o aceita...
(continua)

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

VINGANÇA - PARTE II (final)

No outro dia, parecia que uma bomba estava prestes a explodir no seu escritório. Lucila tinha muuuuito trabalho pela frente, tinha um prazo a cumprir no dia seguinte de uma ação milionária, muitos cálculos precisavam ser feitos, era necessário deixar tudo pronto para o dia seguinte, nem que precisasse passar a noite trabalhando. Lucila trabalhou como uma louca pra conseguir fazer tudo até as seis da tarde, mas viu que precisaria de umas duas horas a mais do que isso pra conseguir terminar tudo o que precisava ser feito.

Foi então que Maurício ligou novamente.

Lucila – Alô.
Maurício – Oi, Lúci.
Lucila – (“Que bonitinho, me chamando de Lúci”). Oi, Maurício, tudo bem? (Embora praticamente estivesse namorando com ele, Lucila não conseguia ser menos formal do que isso).
Mauricio – Tudo minha linda e você?
Lucila – Mais ou menos. Tenho que terminar de apagar um incêndio aqui no escritório, não vou poder tomar aquele café com você hoje.
Mauricio – Ahhhhh.
Lucila – Mas podemos ir jantar se você quiser, mais tarde.
Maurício – Ótimo! Conheço uma pizzaria ótima no centro da cidade. Só que vou precisar de uma carona na volta, você me dá?
Lucila (achando super estranho esse papo de carona) – Ok, pode ser sim.
Maurício – Nos encontramos lá então? Eu vou de carona com um amigo até lá. Mando uma msg com o endereço certinho. Às 9 ta bom?
Lucila – Ok.
Maurício – Beijos.
Lucila – Beijo.

Lucila estranhou o fato de ter que dar carona pro Maurício. Não que não estivesse achando tudo ótimo. Nem que fosse materialista. Mas realmente estranhou o fato dele não querer ir buscá-la em casa. Lucila estava se sentindo uma donzela frágil com o tratamento dado por Maurício e queria ser tratada deste jeito por ele. Achava que ele a buscaria, abriria a porta do carro pra ela entrar, puxaria a cadeira do restaurante pra ela sentar, a pediria em namoro e faria questão de pagar a conta no final. Também estranhou a pizzaria escolhida por Maurício. “Tanta pizzaria bacana nesta cidade e ele foi escolher justo uma bem no centro da cidade”.

“Mas tudo bem... O cara é tão tudo de bom que vou me surpreender. Vale a pena”. Lucila então terminou tudo o que tinha no escritório por fazer, foi pra casa, tomou um banho e foi ao encontro do seu príncipe encantado. Tinha certeza que tudo daria certo e que ele iria pedir pra namorar com ela (seguindo aquele raciocínio da donzela frágil).

Chegou na pizzaria. “Deve ser mais velha que a minha vó esta pizzaria”. Mas o ambiente era acolhedor. Logo enxergou Maurício, Estava sentado no mezanino. Nada de puxar cadeira... nada de cavalheirismos. “Tudo bem, eu acabei idealizando um sujeito que não existe. Deixa eu aproveitar.. afinal, ele é tão lindo, tão fofo, tão querido....”.

Estava tudo ótimo. Não nos padrões da donzela frágil, mas estava ótimo. Mãozinhas dadas sobre a mesa, papo divertido à luz de velas, uns beijinhos... A musiquinha ambiente não era das melhores, mas tudo bem... Nem tudo é perfeito. Fizeram os pedidos. “Nada de cebola nem alho... ufa... E nada de pedido em namoro... calma...”. Veio a pizza, estava meia boca até... melhor do que o esperado.

“Nada dele me pedir em namoro... Calma, ainda falta o cafezinho”. Foi então que Maurício segurou sua mão e disse:

Maurício – Lucila, preciso te falar uma coisa.
Lucila – (É agora!!!!! Tomara que não tenha nenhuma sujeirinha no dente pra eu poder sorrir emocionada quando ele me pedir em namoro). Diga, Maurício.
Maurício – É o seguinte. Você é uma pessoa maravilhosa...
Lucila – (é agora, enfim!!!).
Maurício – Mas eu preciso te contar uma coisa.
Lucila – (Não, Maurício, você não precisa me CONTAR uma coisa, você quer me PEDIR uma coisa). O que?
Maurício – Eu tenho namorada!!!
Lucila – (o que??????? Não acredito!!!!!! Esse idiota, fdp, imbecil!!!!!!!!! Não acredito que ele me fez vir até esse pulgueiro fedido, me fez comer essa pizza nojenta pra me falar isso no final!!!!!!!!!!!!!!!!!).

O sangue subiu. Lucila sentiu seu rosto enrubescer de raiva. Estava realmente com muita raiva daquela criatura sentada à sua frente, segurando a sua mão por cima da mesa. Mas Lucila precisava controlar a sua raiva e pensar numa maneira de dar uma lição neste idiota. Respirou fundo.

Maurício – Fale alguma coisa.
Lucila – Não, beleza. Não tem problema.
Maurício – Mesmo?
Lucila (tirando a mão debaixo de dele) – Mesmo. Eu entendo.

Lucila então pediu um café. Fumou um cigarro friamente pra poder pensar na sua vingança. Aquela situação era realmente inesperada. A donzela frágil tornou-se uma estrategista fria e calculista. Tomou o café, fumou o cigarro, tudo muito calmamente, mas sem dizer uma palavra. Maurício estava achando estranho, mas resolveu esperar por uma reação.
Lucila então levantou-se, avisou Maurício que ia ao banheiro, que ficava no primeiro andar da pizzaria. Desceu as escadas e, ao invés de dirigir-se ao banheiro, saiu da pizzaria. Pegou seu carro e foi embora. Sem dividir a conta e sem dar carona ao idiota.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

VIAGEM SEM VOLTA - Final

Obviamente, a situação situação incomodava Lucila, pois não queria ser apenas uma aventura de outra cidade para Renato. Mesmo sem saber a história certa, ela imaginava que Renato deveria ter motivos muito mais fortes que o fazia voltar a sua cidade todo final de semana. E esse motivo não se restringia apenas seus pais e amigos. Refletindo sobre essa situação, Lucila resolveu não procurar mais Renato e curiosamente ele também não a procurou mais.


Após um mês sem noticias, Lucila chega do seu almoço, abre seu e-mail, e lá estava. Notícias de Renato! Renato dizia:

“Oi Lu, como está frio na sua terrinha ein?”


O sangue de Lucila ferveu. Estava na cara que Renato tinha chego na letra “L” da sua agenda novamente. Então resolveu dar um basta naquela situação. Escreveu:


“Oi Re, me desculpe falar isso por e-mail, mas meu limite chegou. Faz tempo que penso nas coisas que acontece com a gente, e cheguei à conclusão de que você acha que consegue me enganar. Doce ilusão a sua, pois não sou boba. Sei que você deve ter alguém em Porto Alegre, pois nenhum homem jovem, solteiro, entre outras qualidades, tem motivos tão fortes que não o deixam passar o final de semana em outra cidade. Não sei nada de você. E isso me faz pensar que você tem muito a esconder. Você é uma pessoa legal, e eu gosto de verdade, mas eu não quero mais ficar de brincadeira. Queria mesmo alguém não tivesse medo de relacionamentos... É isso. Boa sorte nesses dias gelados. Lucila”


Depois desse e-mail, Renato desapareceu. Lucila sentia-se mais leve, pois pela primeira vez na vida tinha conseguido não engolir o sapo. Falou o que quis no e-mail e até era um alívio não escutar as desculpas esfarrapadas da maioria dos homens.


Passado um ano, Lucila já não lembrava mais de Renato, quando chega um e-mail em sua caixa postal.


“Oi Lucila. Lembra-se de mim? Sou o Renato de Porto Alegre. A última vez que a gente se falou foi por e-mail e confesso que não fiquei muito contente com o que você me escreveu, por isso não respondi. De qualquer forma, gostaria de te rever antes de retornar para Porto Alegre. Seria possível?”


Lucila estava pasma. Até onde chega a cara de pau de um ser humano? No mínimo Renato cansou de pular o nome dela quando chegava novamente na letra “L” da sua agenda. Lucila estava pronta para mandar um e-mail bomba para Renato. E de preferência daqueles que explodissem. Estava realmente possessa.


Antes de escrever a resposta, resolveu dar um volta, tomar uma água. Afinal, hidratar nessas horas é a melhor coisa do mundo! Acreditem!


Nesse intervalo, Lucila ensaiava como iniciaria o e-mail: “Olá Renato, seu grande FDP!...”, ou, “Porque você não morre?”, ou, “Não me lembro de você...”.


Como um estalo, uma idéia veio a sua cabeça. Voltou para sua mesa, respirou fundo, tomou um café, pegou um calendário, fez algumas contas e respondeu.


“Olá Re! Claro que eu lembro de você! Quanto tempo, ein? Imaginei que seu sumiço fosse resultado do meu último e-mail, mas também confesso que escrevi o que estava no meu peito. Minha vida mudou demais nesse último ano. Tenho trabalhado mais em casa, pois estou com um neném novinho, completará 4 meses em breve. Minha mãe e irmã me ajudam muito e graças a Deus que eu tenho elas! Quando você retorna para Porto? Beijos Lucila”


Enquanto aguardava a resposta, Lucila tentava imaginar qual seria a reação de Renato. Jamais tinha mentido de maneira tão descarada para alguém e ainda mais com o objetivo de trazer muitas preocupações para outra pessoa. Apenas uma coisa a confortava: a certeza de que poderia ter sido muito mais má, pois a primeira alternativa que passou em sua cabeça foi dizer que havia descoberto que era soro positivo e que era melhor ele ir ao médico.


Em menos de 3 minutos, a resposta estava na caixa de entrada de Lucila. Dizia: “Volto amanhã. Re.”


Lucila suspirou e pensou: “Um canalha a menos na minha vida!”. Seguiu sua vida.


Não demorou muito para que Renato especulasse a existência ou não de um suposto pai, e enviou um e-mail para Lucila pouco tempo depois.


“Oi Lucila, como está? E o nenem? Dando muito trabalho? Já colocou o pai da criança para trabalhar um pouco enquanto você vai à luta?”


Lucila querendo dar um basta naquilo, respondeu:


“Oi Re! O Junior fica com a minha mãe e irmã... Assim posso trabalhar novamente! Ainda bem né? Beijos Lucila”


Depois dessa resposta, Lucila espera por duas coisas de Renato: O pedido da guarda de seu filho imaginário ou seu sumiço total.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

VINGANÇA - PARTE I

Lucila acordou com gosto de cabo de guarda-chuva na boca. Parecia que tinha uma bola de bilhar rolando dentro de sua cabeça. Olhou para o relógio: 3h42 da tarde. Começou então a lembrar da noite anterior. As lembranças vinham em etapas... Vox... oito doses de vodka... gatinho... estacionamento... “Opa... gatinho??”. Lucila então lembra que ficou com um cara na noite anterior. As lembranças vinham aos poucos... Ele era alto, magro, cabelo castanho claro... “Hmmm... Maurício!!! Isso aí...” Lucila lembrou que era um cara realmente bonitinho... gente boa... uma graça na verdade. “Na real, fiquei até meio apaixonadinha!!. Tomara que ele me ligue”.

Lucila resolveu então levantar. Tomou um banho. Não tinha tido condições de tomar banho na noite anterior e descobriu que estava defumada. Tudo que tinha ido pro Vox no dia anterior foi pra máquina de lavar de roupas. Até a bolsinha de crochê preta ganha da ex-sogra. O cabelo então parecia um cinzeiro!! Até a roupa de cama estava com cheiro de cigarro!! O pijama então, tava fedendo mais do que tudo, e olhe que nem tinha ido pro Vox (pelo menos Lucila não lembrava). Tudo pra máquina de lavar roupas!! Lucila quase entrou junto na máquina.

Tomou seu banho, lavou duas vezes seu cabelo, pegou o telefone e ligou pra Juliana pra contar todos os detalhes da noite anterior. Agora os fatos estavam claros... Contou tudo à amiga, nos mínimos detalhes, sendo que cada trecho ia sendo comentado por Juliana.

Desligou o telefone. Foi ao shopping, pois precisava comer alguma coisa. Nem almoço (muito tarde), nem janta (muito cedo). Almojanta!!! Estava com muita fome. Pegou um lanche completo no macdonalds e foi sentar-se numa mesa. No intervalo entre a batatinha e o sanduíche, sentiu uma vibração estranha... era seu celular, que estava no modo silencioso devido à dor de cabeça que a assolava. Número estranho. Lucila não tinha o costume de atender a números estranhos... Mas naquele dia em especial algo a dizia que poderia ser o gatinho da noite anterior, embora não lembrasse se tinha dado o número do telefone a ele. Muito menos se tinha dado o número certo. Resolveu atender.

Lucila – Alô.
Maurício – Alô, quem está falando?
Lucila – (É ele!!!) Aqui é a Lucila.
Maurício – Oi, Lucila, lembra de mim? Maurício? Nós nos conhecemos ontem no Vox.
Lucila – (Caraaaacaaaaaaa!!! O cara ta me ligando na manhã seguinte[1]... Não pode ser... o cara deve estar apaixonado!!) Claro que lembro!!! Tudo bem?
Maurício – Só com uma dorzinha chata de cabeça, mas agora que tô falando com você, tô bem melhor.
Lucila – (Ai que fofo!!!) Ehehe... Eu também estou com uma dorzinha de cabeça... Por que será??
Maurício – Deve ser a água que tomamos ontem.
Lucila – Heheheh. Deve ser.
Maurício - O que você está fazendo?
Lucila – To almojantando... almoçando e ao mesmo tempo jantando...
Maurício – Ahhh... logo hoje que eu ia te convidar pra jantar??
Lucila – (ahhhhhh... não acredito que ele ia me convidar pra jantar na manhã seguinte ao dia em que fiquei com ele. Que liiiindo!!) Que pena... vai Ter que ficar pra outro dia.
Maurício – Que tal um café amanhã no final da tarde?
Lucila – (Nossa, ele tá mesmo querendo me ver outra vez) Ok, você me liga?
Maurício – Ligo sim. Não vai furar comigo hein? Um beijo, linda!!!
Lucila – Um beijo.

A dor de cabeça foi embora. Tudo isso era muito positivo. O cara que tinha conhecido na noite anterior, a ligação dele na manhã seguinte e o convite para amanhã.

Lucila foi dormir muito feliz... sabia que no dia seguinte iria encontrar com Maurício e isso era muito relaxante.
[1] Manhã nos padrões dia seguinte de night.
continua

domingo, 21 de setembro de 2008

VIAGEM SEM VOLTA - Parte I

Lucila acordou atrasada. Seu vôo saia às 9 horas da manhã rumo a Porto Alegre. Não poderia perder por nada esse vôo, pois havia marcado a reunião com um cliente importante. Levantou-se como um raio, passou pela ducha, colocou seu terninho chumbo, tomou seu café, e correu para o aeroporto. Ufa! Deu tempo!


Já no avião, meio descabelada, sentou-se no lugar indicado. Entretida com a pauta da reunião abstraiu-se do lugar.


De repente alguém senta ao seu lado e derruba metade dos seus papéis no chão. Já não bastava o seu humor de cão, ela ainda tinha que aguentar um povo sem noção logo cedo!?


-- Desculpe-me. Sou desajeitado mesmo.


Lucila escutou uma voz e ergueu os olhos. Um rapaz moreno, cabelos lisos, bem vestido e muito gentil sentava-se ao seu lado.


-- Desculpe-me. – Repetiu o rapaz.

-- Sem problemas. Eu que estou com muitos papéis aqui, mas logo dou um jeito nisso. – respondeu Lucila ríspida.

-- Meu nome é Renato, prazer. – apresentou-se o rapaz.

-- Prazer, Lucila. – se arrependendo de sua grosseria.


Lucila, já com um humor não tão ruim assim, resolveu testar se era capaz de paquerar alguém em um avião às 9 da matina. Enquanto guardava o material da reunião, começou a contagem dos pontos: 1 ponto por se apresentar sem ela ter que elaborar pelo menos 3 alternativas de início de conversa, como por exemplo: “Ta um friozinho, né?”, ou, “Odeio ter que viajar cedo... e você?”, ou, “Essa barrinha de cereal logo cedo é de matar, não acha?”. Mais 1 ponto por ter se desculpado com toda cortesia.


Começou a observar de canto de olho o rapaz, e como magnetismo, seus olhos foram parar nas mãos. Nossa! Eram másculas e bem cuidadas. E melhor: Sem alianças ou marca delas! Mais um ponto positivo.

Nessa altura, Renato já somava quase 10 pontos, o que era realmente uma coisa difícil de acontecer, pois os caras pelos quais Lucila se interessava não chegavam aos 8!


Resolveu dar uma chance (caso ele a quisesse, obviamente). E assim iniciou novamente a conversa com o solene: “Ta um friozinho, né?”. Começaram um papo que só acabou na saída do aeroporto de Porto Alegre. Trocaram telefones e cada um seguiu seu caminho.

Passada uma semana, o telefone de Lucila toca insistentemente. Numero privado. Pensou: “Atendo ou não atendo?Atendo!”.


-- Alo? – Lucila atende.

-- Oi Lucila, aqui é o Renato, do avião de Porto Alegre, lembra? – Renato explicando-se.

-- Claro! Tudo bem com você? – Lucila responde, somando mais 5 pontos à lista do Renato, pois ligar de verdade merece toda essa pontuação.

-- Então... eu queria saber se você aceitaria jantar comigo hoje? – Renato meio sem jeito.


Mais um ponto! Lucila aceitou o convite. Estava mesmo sem ter o que fazer, e Renato era um gatinho de primeira. Jurou para si mesma que nada além de um simples jantar aconteceria naquela noite. Na mesma noite o segundo convite chega: “Poderíamos ir ao cinema amanhã, o que acha?”.


A atitude de Renato a encantava. Ele tomava frente da situação e não tinha medo de convidar. Lucila não encontrava um homem assim há tempos. Já não conseguia mais contar os pontos, que já eram muitos àquela altura.


No segundo encontro, Lucila já não pensava mais em ficar apenas no cineminha e no jantar. Ela queria experimentar Renato. E assim o fez. Colocou sua melhor e menor lingerie, seu melhor perfume, seu melhor hidratante. Estava divina. Irresistivelmente cheia de segundas e terceiras intenções. E claro, Renato caiu como um patinho.


Muitos outros convites foram feitos e aceitos. Muitas outras noites aconteceram. Saiam quase toda semana juntos. Ela chegou a pensar que namorariam, mas infelizmente o rapaz retornava a Porto Alegre todo final de semana. Lucila desconfiada resolveu não interferir, pois não era sempre que encontraria um cara tão gentil e atencioso.



Continua...

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

MILK SHAKE - PARTE II (final)

Chegando no estacionamento do Kharina, Fred desligou o motor do carro. “Ai Meu Deus!!! Que frio na barriga”. Ligou o pisca e logo veio o garçom e passou pela frestinha do vidro os cardápios. Lucila foi direto à parte de bebidas alcoólicas. Olhou, olhou, até que achou que era uma ótima idéia pedir uma caipirinha de morango.

Garçom: Querem fazer o pedido?

Lucila abriu a boca para pedir sua caipirinha de morango, quando Fred se antecipou e fez o seu pedido antes.

Fred – Uma coca light, por favor.
Lucila – (Coca light??? Cara, não acredito... ninguém pede coca light... Agora f... Não posso mais pedir a caipirinha, afinal de contas não posso dar uma de cozida logo no terceiro encontro, enquanto ele toma coca light... Ninguém merece... Ele é muito certinho!! Primeiro NÃO QUIS ir no Verde Batel comigo e agora pede uma coca light??? Bom, não vou pedir a mesma coisa, senão ele vai achar que eu estou copiando o pedido dele e que não tenho criatividade. Na verdade o meu pedido tem que demonstrar alguma coisa a mais sobre minha personalidade. Não pode ser uma mera coca light!! Ninguém gosta na verdade de coca light. Nunca vi nenhum magro – além do Fred, é claro – pedindo uma coca light. Preciso demonstrar pra ele que sou uma mulher decidida, magra e que não me preocupo com essas coisas de calorias, que estou preocupada com outras coisas, mais profundas...).

Quando então o pensamento de Lucila foi interrompido por Fred:

Fred – Já escolheu, Lucila??

Quando subitamente e sem titubear, Lucila fez o seu pedido:

Lucila – Um milk shake, por favor! De flocos!!! (Caracaaaaa... não acredito que no meu terceiro encontro com o cara, eu peço um milk shake de flocos... não acredito... agora será que ele vai me achar uma gorda??? Uma ogra??? Ai, não acredito que eu fiz isso).

O garçom se distancia do carro. Silêncio constrangedor. Lucila não sabe o que falar, pela primeira vez em sua vida. “Onde estão todos aqueles assuntos que surgem quando estamos falando no telefone?”. Enquanto Lucila tenta achar um assunto interessante dentro de sua cabeça, Fred pega na sua mão, puxa seu braço e lhe dá um beijo. Um beijo daqueles!!! Outro beijo... e mais um!! (“Ele deveria ter sugerido ir no Verde Batel!!”). Muitos beijos depois, chega o milk shake de Lucila e a coca light de Fred. Enquanto Lucila toma seu milk shake, Fred fala, olhando pra lata de coca light:

Fred – Lucila, preciso te falar uma coisa.
Lucila – (“Pronto, ele é casado!!!!!”)

Fred então toma um longo gole na sua coca light enquanto Lucila tem espasmos nervosos esperando o que viria em seguida.

Fred – Sabe, Lúci, eu gostei muito de te conhecer, acho você uma pessoa super legal, divertida, bonita...
Lucila – (Caraca!! Ele vai me dar o fora!!! Quer ver ele falar o malsinado “mas”?)
Fred – Você é super alto astral, inteligente...
Lucila – (Mas?????)
Fred – Mas eu to passando por outra fase da minha vida...
Lucila – (Eu sabia que tinha um “mas”, tava muito bom pra ser verdade).
Fred – Acabei de terminar um namoro longo, não queria emendar um no outro... Por outro lado também não quero te perder. Você é uma pessoa super especial.
Lucila (imóvel) – (Tá, então o que ele quer??? Num tô entendendo!!! Se eu sou tão especial porque ele não quer namorar comigo??).
Fred – Eu só acho que a gente não deve ainda assumir nenhum compromisso por enquanto, nem cobrar nada um do outro.
Lucila – Ahhh... Era isso??? Se preocupa não... Eu também acho que é muito cedo pra assumir um compromisso. (Que MENTIRAAA, como eu pude falar isso pra ele????). Acho que você está certíssimo.
Fred – Mas não quero que nada mude entre nós.
Lucila – (Agora já mudou, meu filho!!!). Ok, por mim nada vai mudar.

Nisso, ambos já haviam terminado de tomar suas bebidas, que foram recolhidas pelo garçom. Fred puxa mais uma vez Lucila pela mão, a envolve em seus braços e a beija mais uma vez. Beija-a inúmeras vezes. Os dois se abraçam, se beijam, por um longo tempo. Até que quando as coisas começam a esquentar, Lucila resolve que está na hora de ir embora. Fred pára na frente do prédio de Lucila. Mais beijos e abraços, para Lucila, tudo com gosto de despedida. Quando Lucila abre a porta do carro, Fred olha e diz:

Fred – Te ligo amanhã, tá?
Lucila dá um sorriso e seus olhos brilham. “Ufa... Que alívio... Eu achei que realmente iria mudar alguma coisa!!!”. Espera Fred ir embora. Abre a bolsa, acende um cigarro e vai pra casa.
FIM

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

MILK SHAKE - PARTE I

Não adiantava. Mesmo sendo o terceiro encontro com Frederico, Lucila ainda sentia as dores de barriga comuns ao início de relacionamento. Já tinha conseguido passar pelos dois primeiros encontros sem nenhuma gafe. O primeiro tinha sido numa festa, quando se conheceram e o segundo, no dia seguinte, quando ele foi buscá-la no teatro e eles foram num café. Depois disso, tinham passado mais de uma semana só na conversa por telefone. Agora, tinham combinado de sair. Até que enfim uma saída de verdade!!!

E lá estava Lucila. Cabelos escovados, blusa nova, calça jeans, maquiagem profissional (que ela aprendeu num curso de automaquiagem) e sapato de bico fino, bem aquele que aperta o dedinho. Mas tudo bem, era por uma boa causa. Lucila estava um pouco nervosa esperando por Frederico, não sabia até quando iria durar o rolo e então nada poderia dar errado. NADA!!

Ainda ia demorar 20 minutos pra ele chegar, então ela abriu sua bolsa, sacou seu celular e ligou pra Juliana.

Juliana – Faaaala Lúci. Ué, não ia sair com o Fred?
Lucila – Estou esperando ele. Você nem o conhece e já o chama de Fred? Nem EU tenho tanta intimidade assim pra chamá-lo de Fred.
Juliana – É que há uma semana eu só escuto falar nele... É a única coisa que você fala... O Frederico isso, o Frederico aquilo... Então eu já tenho intimidade.
Lucila – Mas você vai chamá-lo de Fred quando conhecê-lo?
Juliana – Claro!! Sou íntima dele... Mas fala aí. O que te aflige?
Lucila – Ah, to nervosa... Na real é o primeiro encontro de verdade com ele.
Juliana – E onde vocês vão?
Lucila – Não sei ainda... Mas não quero nada muito light, igual ao café que nós fomos na semana passada. Pode ser um barzinho... ou não. Mas pelamordedeus, precisa ter uma bebidinha alcoólica. Na verdade uma cubinha hoje ia bem. Preciso relaxar, já que estou sem fumar há exatamente 22 horas, tudo por causa deste encontro de hoje.
Juliana – Então, sugira um barzinho antes que ele queira ir no mcdonalds.
Lucila – Pááára Juuuuu. Ele não vai querer ir no Mac...
Juliana – To brincando, Ju... Claro que ele não vai querer ir no Mac.
Bibiii
Lucila – Bom, ele chegou... Me deseje boa sorte.
Juliana – Boa sorte. Não faça nada que eu faria.
Lucila – Ahaha. Beijos, guria.
Juliana – Beijos.

E então Lucila sai de casa... meio sem graça. Pois embora falasse todos os dias com Fred, era a terceira vez que estava vendo aquele ser. Era estranho que a voz que conversava todos os dias com ela tivesse um rosto... e um corpo. Entrou no carro. “Ai, e agora... beijo no rosto ou selinho??? Beijo no rosto vai parecer que temos menos intimidade e selinho vai parecer que estou achando que temos algo mais do que realmente temos. Ai... beijo no rosto ou selinho? Beijo no rosto ou selinho...”. É incrível o quanto conseguimos pensar em dois segundos. Foi então que Fred se debruçou sobre ela e beijou de leve a sua boca. “Pronto, resolvido o problema inicial”.

Fred – Onde você quer ir?
Lucila – Ah, sei lá... nem pensei nisso. Mas um barzinho seria ótimo!!
Fred – Barzinho? Pensei em algo mais sossegado.
Lucila – (Ai Meu Deus, ele vai querer ir pro motel assim, na cara dura?) Como assim sossegado?
Fred – Ah... um lugar em que a gente pudesse ficar mais à vontade.
Lucila – (F..., ele quer ir pro motel... Nem a pau que eu vou...).
Fred – Achei que a gente poderia ficar dentro do carro.
Lucila – (É pior do que eu pensava... Ele quer me levar no Verde Batel[1]... C... No terceiro encontro e já quer me levar pro Verde Batel??? Tudo bem que eu nunca fui lá, ia ser uma coisa louca, ultra divertida... Nããão, Lucila, você não vai pro Verde Batel com um cara que você está vendo pela terceira vez. Você nem sabe direito quem ele é, quais os hábitos dele, se ele não é um maníaco... Não mesmo!!!).
Fred – E então... o que você me diz????
Lucila – Hmmm... éhhh... mmm...
Fred – Pensei que a gente podia ir no Kharina[2].
Lucila – (Kharina??? Era pra esse lugar sossegado que ele queria me levar desde o início?? Que bonitinho!!! Ai, retiro tudo o que eu pensei sobre ele ali em cima... Se bem que não era bem isso que eu tava pensando pra hoje a noite. Ele deveria imaginar que eu não coloquei sapato de bico fino ficar dentro do carro. Mas tá ótimo!! Melhor que o Verde Batel.).
Fred – Então vamos pra lá.

Fred então ligou o som do carro, colocou o cd do Ira e foram. No caminho do Kharina, muitas coisas passaram pela cabeça de Lucila. “O que ele quer me levando no Kharina? Será que ele quer namorar comigo? Será que ele quer me falar alguma coisa muito importante, que eu vou chorar e por isso ele não quis me levar num lugar público? Ai, mas pelo menos ele vai me levar no Kharina... lá tem um monte de crianças... E eu aqui pensando mal dele... Será que ele gosta de crianças? Tomara que ele goste!!! Já consigo imaginá-lo com um neném no colo...”. Enquanto isso, outras coisas bem diferentes passavam pela cabeça de Fred: “Feliz Aniversário, envelheço na cidade, feliz aniversário, envelheço na cidade...”.

[1] Drive-in em Curitiba onde as pessoas costumam “namorar” dentro do carro.
[2] Lanchonete em Curitiba. Também serve drive-in, mas é mais família e não tem como “namorar” dentro do carro sem o carro do lado ver tudo.
(continua)

terça-feira, 16 de setembro de 2008

UM FORA SEM PRECEDENTES - FINAL

LUCILA (Ai que vergonha, ele não vai se lembrar de mim nunca) -- Oi Anderson, lembra de mim?

ANDERSON -- Luuuuuciiii!!!! – Recebendo-a com um grande abraço cheio de contato.

LUCILA (Não babe! Não faça cara feia! O vestido ta certo? O perfume ta bom? Ai meu Deus!) -- Quem bom te encontrar!! O que você está fazendo aqui? (errr que pergunta idiota, deixa o cara se divertir)

ANDERSON -- Estou no aniversário da Carminha.

LUCILA -- Jura? Eu trabalho com ela... bla bla bla.


E os dois engataram num papo só. Enquanto isso Juliana já se entrosava com a turma do aniversário, pois viu que a amiga estava se divertindo. De repente Lucila volta como se nada tivesse acontecido. Juliana pergunta:


JULIANA -- E ae amiga?

LUCILA -- Ah! Ele já vem pra cá. Foi ao banheiro.


Duas horas depois e o rapaz desapareceu da vista, Lucila cansada de esperar começou a se divertir com Juliana, o que de fato incluía algumas doses no roteiro.

Fim de noite, hora de voltar para casa. As duas terminaram no 0 a 0, mas isso não importava em nada, pois o que importava mesmo era a diversão garantida das duas quando estavam juntas. Fila quilométrica no caixa. As duas se dirigiram para la.

Quando Lucila se aproximava para pagar, o Anderson aparece ao seu lado.


ANDERSON -- Foi ótimo te rever. Posso te dar meu cartão?

Lucila mais pra lá do que pra cá quase não podia acreditar no que ouvia. Ignorou totalmente o fato do rapaz ter desaparecido, encarnou o espírito “moça sensível”, jogou o cabelo para o lado, piscou 3 vezes, e disse bem feminina:


LUCILA -- Claro querido, se eu puder te dar o meu também...

Anderson a olhou com um ponto de interrogação nítido no rosto e disse sem rodeios:


ANDERSON -- Nã..não... Quero te dar o meu cartão do banco para você pagar minha conta, pois olha o tamanho dessa fila, ta loco!!!

Lucila procurou o primeiro buraco para enfiar a cabeça. Juliana caia na gargalhada. Anderson não sabia o que dizer.


Que extra terrestre que nada, pensou Lucila, o mercado estava realmente fraco. “Antes só do que mal acompanhada!”

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O SURTO - PARTE III (final)

Voltou ao escritório, pegou sua apelação e foi ao fórum, que por sinal estava lotado, o que piorou o humor de Lucila. Saindo do fórum, com o celular na mão, lembrou que talvez fosse interessante dar uma passadinha no shopping, estrategicamente situado ao lado do fórum. Foi até uma loja de departamentos e foi olhando, de arara em arara, enxergou uma blusinha que lhe agradou e que combinava com a calça que ela queria. Provou, serviu, pagou e saiu, feliz da vida. A blusinha lhe fez muito bem. Todo o mau humor foi embora!!! Resolveu voltar a pé pro escritório pra poder ligar pra Ju e contar da blusinha e já emendaram um papo sobre como Ju ia conseguir lavar, secar e fazer escova no cabelo em tempo de sair com o gatinho, mas Lucila já tinha pensado nisso e já tinha programado em sair só depois das 20h pra dar tempo de fazer tudo isso.

Era quase quatro e meia quando Lucila chegou no escritório. Começou a ficar preocupada... Nada do Gustavo ligar... Se ao menos eu soubesse o sobrenome dele pra procurá-lo no orkut e tentar descobrir alguma coisa... Mas a única coisa que sabia dele era que ele era exatamente o seu número e que tinha uma voz maravilhosa.

Cinco horas. Começou a ficar realmente preocupada... Nada do Gustavo... Chamou a Juliana no msn.

Lucila – Juuuuu... pelamordedeus, ele não me ligou ainda... O que eu faço?
Juliana – Como assim, o que você faz?? Não faz nada... A única coisa que você tem a fazer é esperar.
Lucila – Bom...
Juliana – Você não tá pensando em ligar pra ele, né??
Lucila – É...
Juliana – Não, não e não. Você não vai ligar pra ele... Entendeu??
Lucila – Entendi.
Juliana – Me avise quando ele ligar.
Lucila – Ok.


Seis horas... nenhum telefonema. O dia todo!!! Nem do Gustavo e nem de ninguém. Lucila pega sua bolsa e vai pra casa. No caminho pensa em ligar pra Gustavo, mas então lembra da proibição da amiga. Mas ela acaba achando uma brecha na proibição. “A Ju disse que não é pra eu ligar. Mas mandar mensagem eu posso. Aliás, ela nem precisa saber que eu mandei essa mensagem”. Foi então que mandou a mensagem “Tá de pé nossa saidinha hoje? Estou esperando você ligar. Beijos, Lucila”. “Bom, agora sim... ele vai me ligar, eu vou fazer escova, colocar minha blusinha nova, maquiagem reparadora, vou ficar linda de morrer e vai ser tudo perfeito. Amanhã neste horário não serei mais uma mulher solteira e encalhada”.

Chegou em casa, entrou no banho, lavou o cabelo. Saiu do banho e foi olhar no seu celular... nada... nenhuma mensagem e nenhuma ligação. “Ai, meu Deus!!!”. Estava indo começar a escova quando escutou o celular tocar. M... era a Juliana.

Lucila – Oi.
Juliana – Ihhh... pela voz ele não ligou ainda.
Lucila – Não... estou absolutamente surtada. Não ligou e não respondeu a mensagem.
Juliana – Que mensagem???
Lucila – Hmmmmm
Juliana – Não acredito que você mandou mensagem!!! O que você escreveu?
Lucila – Tá de pé nossa saidinha hoje?
Juliana – Bom, e ele não respondeu?
Lucila – Não.
Juliana – Você queimou a chance que você tinha de ligar pra ele mandando a mensagem. Eu falei pra você não mandar!!!
Lucila – Agora já foi, Juliana... Eu to surtada pra c... Quer fazer o favor de parar de fazer terrorismo comigo?
Juliana – Nem pense em ligar pra ele, hein?
Lucila – Tá, agora tenho que fazer escova.
Juliana – Vai lá.
Lucila – Se ele ligar te aviso.
Juliana – Tá, to esperando.

Foi então fazer escova. Na verdade precisava de um cigarro antes da escova, mas se lembrou de sua promessa de madrugada “sem cigarros até depois do encontro”. Meia hora depois... nada do celular dar algum sinal de vida. “Quer saber??? Vou ligar!!!!! Não quero nem saber!!! Quem ele pensa que é?????? Marca comigo e daí some!!!!!”. 10 segundos depois: “MALDITA VOZ QUE MANDA A GENTE DEIXAR RECADO!!!!!”. Celular desligado. Resolve então se arrumar. Caso ele ligue, ela já estaria pronta, linda e maravilhosa.

Dez e meia da noite. Lucila pronta, com o cabelo lindo e maravilhoso, sentada no sofá assistindo a Grande Família. Com a blusinha alucinante que ela comprou e verde... isso mesmo, verde de fome!!! Pudera... tomou meia xícara de café e comeu duas folhas de alface com 30 gramas de peito de frango grelhado, o dia todo!! Toca o telefone, ela vai correndo. “Ah, não... É a Juuu”.

Juliana – E daí? Nada????
Lucila – Não... Ele não vai ligar mais.
Juliana – É, acho que você pode considerar isso como uma forte possibilidade.
Lucila – Se ele ligar te aviso.
Juliana – Ai, guria... que droga esses homens, viu? Liga não... Amanhã ele vai ligar com a desculpa mais esfarrapada que você já ouviu e você vai achar lindo, acreditar e vai ficar tudo bem.
Lucila – É... parece que sim.

Lucila então fumou uma carteira de cigarros, pediu uma pizza por telefone, colocou o pijama, tirou a maquiagem e foi dormir, decepcionada com o encontro (ou a falta dele) e angustiada como na noite anterior.
FIM

domingo, 14 de setembro de 2008

UM FORA SEM PRECEDENTES - Parte I

Lucila já se sentia igual a uma extra terrestre entre suas companheiras de trabalho, afinal todas tinham relacionamentos estáveis e duradouros, e ela, taxada como “exigente demais” pensava que ou ela estava andando por lugares errados, ou o mercado estava muito fraco mesmo.

Apesar de suas colegas não terem diferenças com Lucila, em uma certa quinta-feira um convite de aniversário de uma delas chegou da seguinte maneira:

CARLA -- Oi Luci, queria muito que você fosse no meu aniversário. Meu marido tem vários amigos gatinhos e solteiros.

Lucila fez uma pausa tentando digerir a frase (O que ela quis dizer com isso? To parecendo desesperada?? To em liquidação e não sei???). Mantendo toda sua diplomacia, Lucila respondeu:

LUCILA -- Claro Carla, pode contar comigo, estarei lá para comemorar seu aniversário (sua invejosa que queria ser solteira como eu novamente).

Logo depois desses pensamentos invadirem a cabeça de Lucila, ela mesma se auto condenou: “Nossa quanta amargura! Credo guria! Você não é assim! Vai que os amigos são gatinhos mesmo e vale a pena???”

Lucila sorriu para Carla e já começou imaginar qual seria sua super produção para o sábado à noite afinal não queria arriscar a encontrar o amor de sua vida usando qualquer roupa. “Já sei! Shopping hoje a noite!”

Lucila comprou um pretinho básico e se imaginou entrando no barzinho sozinha. Não gostou da idéia. Sacou seu celular e ligou para Juliana:

JULIANA -- Oi guria!

LUCILA -- Oi Juzinha!! Tudo bem? Seguinte, sábado a noite você tem uma festa para ir comigo, não aceito não, não aceito “mas..”. Te pego em casa as 22 horas.

JULIANA -- Bem... Já que você me deu várias opções e não sei quais delas escolher, te espero em casa então. Beijo.

Suspirou e relaxou. Agora era só aguardar o sábado prometido se produzir, pegar a amiga e irem para à festa.

Chegaram no bar as 23 horas, teve um esquenta na casa da Juliana antes, como de costume, vários pescoços se quebraram quando as duas divas passaram, chegaram a mesa da aniversariante, a cumprimentaram. Enquanto elas faziam isso com a maior normalidade da face da terra, seus radares e antes estavam fazendo o reconhecimento do local. Juliana sussurra para Lucila:

JULIANA -- Sua amiga Carla não mentiu, quanta gente bonita!

LUCILA -- Ai meu Deus Ju! To passando mal! Ta vendo aquele ali no canto???

JULIANA -- Quem é Lu?

LUCILA (parecendo uma vara verde) -- Lembra do carinha que eu comentei, amigo da Ana? O Anderson?

JULIANA (espantada) -- O que!!!! Vai me dizer que é aquele deus grego?? Vai la cumprimentar o menino, sua besta!

Lucila arrumou o cabelo e deu alguns passos incertos em direção ao rapaz.

PRÓXIMO CAPíTULO: O que será que acontecerá com nossa amiga? Será que o rapaz vai ser gentil, ou será que o rapaz dará um literal TOCO nela?

sábado, 13 de setembro de 2008

O SURTO - PARTE II

Pépépépé... M... de despertador, justo agora que eu consegui dormir... Lucila levantou, de mau humor, embora não fosse segunda-feira, dia em que invariavelmentetinha mau humor, foi até o banheiro, ligou o chuveiro. Entrou embaixo do chuveiro,já pensando no encontro que tinha logo mais tarde. Saiu do banho, colocou a primeira roupa que viu pela frente, foi até a cozinha com o celular nas mãos. Ligou a cafeteira e tentou ligar novamente pra Juliana, pois precisava decididamente resolver vários assuntos muito importantes com a amiga, tais como que roupa iria usar, que horas a Ju achava que o cara ia ligar, onde ela achava que ele iria levá-la, etc. Celular da Ju desligado.... Ainda... Aquela voz infernal mandando deixar recado na caixa postal... E já era quase oito e meia. Escreveu uma mensagem: "Uóuóuó... Me ligue". Esse código nunca falhava... Se tinha uóuó, a Ju saberia que era coisa importante, assim que ligasse o seu celular retornaria logo em seguida. Tomou meia xícara de café preto com adoçante... afinal, tinha que manter a forma até o final do dia. Foi até o espelho e viu o que a maldita insôniafez com o seu rosto. Ela estava horrível. Tentou disfarçar com maquiagem, mas sabia que teria que caprichar mais quando fosse sair com o Gustavo.
9h. Chega no escritório. Pega a sua agenda, verifica os prazos e liga ocomputador. Abre seus e-mails... nada de interessante. Abre o orkut... nada de novo também. Abre o msn... ninguém de bom. Abre o word pra começar efetivamente atrabalhar. Toca seu celular... "ufa... é a Ju".
Lucila - Alô.
Juliana - O que aconteceu, LZS??????? (abreviatura de Lucila Zara de Souza).
Lucila - Pelamoredeus, onde já se viu desligar o celular? Lembra que o Gustavo ligou ontem, né?Juliana - Gustavo... hmm... é o moreno da fila do Vox?
Lucila - É. Tenho vários problemas. Tive uma insônia fdp que me deixou horrível,não sei que roupa vou usar, não lembro da cara dele, não deveria ter comido carboidratos na semana passada, ele deve ter achado que eu era mais bonita...afffff...
Juliana - Calma, Lúci... relaxe, guria... tente relaxar, vamos por etapas. Olheira dá pra disfarçar com maquiagem, a roupa vemos depois e definitivamente você não está gorda... calma... tenho que desligar agora, meu chefe tá me chamando... Entre no msn, assim que der te chamo.
Lucila tentou então fazer o que a amiga lhe sugeriu: relaxar. Colocou seu celular ao lado do computador e novamente começou a trabalhar. Uma olhadinha no computador, uma no celular...Às dez horas Juliana entra no msn. E inicia uma longa conversa sobre que roupa Ju iria usar no encontro, até que Ju avisa que precisa sair e se despedem. De volta ao trabalho... humpf!! Lucila continua naquela, um olho no computador e outro no celular... Nada do Gustavo ligar... "Ai meu Deus... e se ele não ligar????Ai, não tinha pensado nesta hipótese... C... Agora que não consigo trabalhar" Lucila olha pra sua colega de sala... ela também está de mau humor... Torce o nariz toda vez que Lucila pega no telefone pra fazer alguma ligação pessoal. Vou TER que ir ao banheiro, pensa.
Lucila - Tututu.
Juliana - Alô.
Lucila - Ju, acabei de ter uma idéia absolutamente absurda. Ele pode não ligar, né?
Juliana - É uma possibilidade... Pode acontecer... Embora seja uma hipótese bem remota, pois ele te ligou ontem a noite.
Lucila - É, né???
Juliana - É, sim, relaxe. É de manhã ainda... Todo mundo sabe que ligar de manhã é desespero. Ele deve fazer um charme e ligar só lá pelo final da tarde.
Lucila - Blz então.
Ccccccccrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
Juliana - O que foi isso?
Lucila - A descarga.
Juliana - Não acredito que você tá me ligando do banheiro!!!
Lucila - Pois é... a chatonilda que divide a sala comigo tava me olhando torto.
Juliana - Então tá, qualquer coisa me chame.
Lucila - Ok.
Juliana - Beijos.
Lucila - Beijos.
De volta ao trabalho. Desta vez totalmente absorta no recurso que estava fazendo. Ficou convencida de que ele não ligaria pela manhã. Foi almoçar sozinha. Pegou uma saladinha verde, tomate... lasanha não, talharim ao molho de quatro queijos não,bife à milanesa não... Caraca!!! Só tem comida que engorda hoje! Bem hoje!! Pegou um peito de frango grelhado, não muito grande. Afinal, ela tinha que estar magra ànoite. Almoçou e segurou o celular na mão. "Pronto. Agora já é de tarde, ele pode me ligar a qualquer hora".Foi então que quando saiu do restaurante lembrou-se novamente da roupa... Não estava satisfeita com a simplicidade da roupa que Ju tinha sugerido. Tinha que ser algo mais tchan... Tinha que ter algo a mais.