quarta-feira, 17 de setembro de 2008

MILK SHAKE - PARTE I

Não adiantava. Mesmo sendo o terceiro encontro com Frederico, Lucila ainda sentia as dores de barriga comuns ao início de relacionamento. Já tinha conseguido passar pelos dois primeiros encontros sem nenhuma gafe. O primeiro tinha sido numa festa, quando se conheceram e o segundo, no dia seguinte, quando ele foi buscá-la no teatro e eles foram num café. Depois disso, tinham passado mais de uma semana só na conversa por telefone. Agora, tinham combinado de sair. Até que enfim uma saída de verdade!!!

E lá estava Lucila. Cabelos escovados, blusa nova, calça jeans, maquiagem profissional (que ela aprendeu num curso de automaquiagem) e sapato de bico fino, bem aquele que aperta o dedinho. Mas tudo bem, era por uma boa causa. Lucila estava um pouco nervosa esperando por Frederico, não sabia até quando iria durar o rolo e então nada poderia dar errado. NADA!!

Ainda ia demorar 20 minutos pra ele chegar, então ela abriu sua bolsa, sacou seu celular e ligou pra Juliana.

Juliana – Faaaala Lúci. Ué, não ia sair com o Fred?
Lucila – Estou esperando ele. Você nem o conhece e já o chama de Fred? Nem EU tenho tanta intimidade assim pra chamá-lo de Fred.
Juliana – É que há uma semana eu só escuto falar nele... É a única coisa que você fala... O Frederico isso, o Frederico aquilo... Então eu já tenho intimidade.
Lucila – Mas você vai chamá-lo de Fred quando conhecê-lo?
Juliana – Claro!! Sou íntima dele... Mas fala aí. O que te aflige?
Lucila – Ah, to nervosa... Na real é o primeiro encontro de verdade com ele.
Juliana – E onde vocês vão?
Lucila – Não sei ainda... Mas não quero nada muito light, igual ao café que nós fomos na semana passada. Pode ser um barzinho... ou não. Mas pelamordedeus, precisa ter uma bebidinha alcoólica. Na verdade uma cubinha hoje ia bem. Preciso relaxar, já que estou sem fumar há exatamente 22 horas, tudo por causa deste encontro de hoje.
Juliana – Então, sugira um barzinho antes que ele queira ir no mcdonalds.
Lucila – Pááára Juuuuu. Ele não vai querer ir no Mac...
Juliana – To brincando, Ju... Claro que ele não vai querer ir no Mac.
Bibiii
Lucila – Bom, ele chegou... Me deseje boa sorte.
Juliana – Boa sorte. Não faça nada que eu faria.
Lucila – Ahaha. Beijos, guria.
Juliana – Beijos.

E então Lucila sai de casa... meio sem graça. Pois embora falasse todos os dias com Fred, era a terceira vez que estava vendo aquele ser. Era estranho que a voz que conversava todos os dias com ela tivesse um rosto... e um corpo. Entrou no carro. “Ai, e agora... beijo no rosto ou selinho??? Beijo no rosto vai parecer que temos menos intimidade e selinho vai parecer que estou achando que temos algo mais do que realmente temos. Ai... beijo no rosto ou selinho? Beijo no rosto ou selinho...”. É incrível o quanto conseguimos pensar em dois segundos. Foi então que Fred se debruçou sobre ela e beijou de leve a sua boca. “Pronto, resolvido o problema inicial”.

Fred – Onde você quer ir?
Lucila – Ah, sei lá... nem pensei nisso. Mas um barzinho seria ótimo!!
Fred – Barzinho? Pensei em algo mais sossegado.
Lucila – (Ai Meu Deus, ele vai querer ir pro motel assim, na cara dura?) Como assim sossegado?
Fred – Ah... um lugar em que a gente pudesse ficar mais à vontade.
Lucila – (F..., ele quer ir pro motel... Nem a pau que eu vou...).
Fred – Achei que a gente poderia ficar dentro do carro.
Lucila – (É pior do que eu pensava... Ele quer me levar no Verde Batel[1]... C... No terceiro encontro e já quer me levar pro Verde Batel??? Tudo bem que eu nunca fui lá, ia ser uma coisa louca, ultra divertida... Nããão, Lucila, você não vai pro Verde Batel com um cara que você está vendo pela terceira vez. Você nem sabe direito quem ele é, quais os hábitos dele, se ele não é um maníaco... Não mesmo!!!).
Fred – E então... o que você me diz????
Lucila – Hmmm... éhhh... mmm...
Fred – Pensei que a gente podia ir no Kharina[2].
Lucila – (Kharina??? Era pra esse lugar sossegado que ele queria me levar desde o início?? Que bonitinho!!! Ai, retiro tudo o que eu pensei sobre ele ali em cima... Se bem que não era bem isso que eu tava pensando pra hoje a noite. Ele deveria imaginar que eu não coloquei sapato de bico fino ficar dentro do carro. Mas tá ótimo!! Melhor que o Verde Batel.).
Fred – Então vamos pra lá.

Fred então ligou o som do carro, colocou o cd do Ira e foram. No caminho do Kharina, muitas coisas passaram pela cabeça de Lucila. “O que ele quer me levando no Kharina? Será que ele quer namorar comigo? Será que ele quer me falar alguma coisa muito importante, que eu vou chorar e por isso ele não quis me levar num lugar público? Ai, mas pelo menos ele vai me levar no Kharina... lá tem um monte de crianças... E eu aqui pensando mal dele... Será que ele gosta de crianças? Tomara que ele goste!!! Já consigo imaginá-lo com um neném no colo...”. Enquanto isso, outras coisas bem diferentes passavam pela cabeça de Fred: “Feliz Aniversário, envelheço na cidade, feliz aniversário, envelheço na cidade...”.

[1] Drive-in em Curitiba onde as pessoas costumam “namorar” dentro do carro.
[2] Lanchonete em Curitiba. Também serve drive-in, mas é mais família e não tem como “namorar” dentro do carro sem o carro do lado ver tudo.
(continua)

3 comentários:

Anônimo disse...

que lixo

Anônimo disse...

Vou gorfei.

Anônimo disse...

Escreve muito bem, amei. Recomendo cursar Letras Latim na faculdade.