segunda-feira, 17 de novembro de 2008

O MANÉ

Mau humor. Qualquer um que olhasse pra cara dela naquela manhã saberia que Lucila não estava nos seus melhores dias. Os motivos eram vários. Era segunda feira. O chuveiro não esquentou. Estava de TPM. A internet não estava funcionando. Plutão não era mais planeta. O que mais podia acontecer???

Enfim, Lucila não tinha outra opção senão trabalhar em silêncio, rezando pra que nenhuma alma viva cruzasse o seu caminho. Até que teve que ir fazer umas fotocópias (PQP!!!!) e teve que sair do escritório. A porta do seu escritório dava de frente para um outro escritório.

Quando Lucila saiu do seu escritório escutou um comentário:

- Quando é que você vai almoçar comigo???

“Ai, não!!!”, pensou Lucila. “Tudo que eu precisava hoje era que o mané do escritório da frente me convidasse pra almoçar... PQP..., vou mandar ele praquele lugar”. Mas Lucila se conteve e conseguiu dar uma resposta educada, automática, sem olhar pra trás, nem parar de andar:

- Quando você me convidar!

E passou.
O cara do escritório da frente era o protótipo do mané. Quando inventaram essa expressão, com certeza inspiraram-se em alguém como o mané do escritório da frente. Ele encarnava a manezice como ninguém. Óculos fundo de garrafa, espinhento, inteligente e chato. Muuuuuuuuuuito chato. Ninguém gostava do coitado.

Lucila foi até a papelaria, fez as fotocópias e voltou ao escritório, rezando pra não encontrar o mané pela frente. Não encontrou. “Ufa”. Voltou a curtir seu mau humor sozinha, ligou o piloto automático e trabalhou em silêncio durante o resto da manhã.

Até que bem perto do meio dia o colega de trabalho de Lucila, Alexandre (um gostoso, moreno, alto e olhos claros... mas casado) avisou que tinha ligação pra Lucila.

Lucila – Alôô.

A voz do outro lado da linha respondeu: “Oi, Lucila, aqui é o José Carlos, do escritório da frente”

Lucila pensa: “Caraca, quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece!!!”. Já sabia o que vinha pela frente... Tentou manter a cordialidade:

Lucila – Oi, José Carlos.
Mané – Então, estou te ligando para convidá-la formalmente a almoçar comigo hoje.
Lucila (ela não tinha condições de ir almoçar com aquela criatura naquele dia... até poderia fazer uma boa ação num outro dia, mas aquele dia em especial ela não queria nem trocar duas palavras com ninguém. Muito menos com o mané do escritório da frente. Resolveu ser um pouco sincera) – Ai, José Carlos, muito obrigada pelo convite, mas infelizmente não vou poder ir almoçar com você hoje, estou morrendo de dor de cabeça.
Mané – Puxa, estimo melhoras.
Lucila (“Estimo melhoras???? Quem na face da terra fala ‘estimo melhoras’... Ninguém, só poderia ser esse mané aí mesmo... afff”) – Obrigada.
Mane – Um beijo.
Lucila (Como assim um beijo??? Que intimidade é essa???) – Tchau.

Após o telefonema, o mau humor de Lucila só aumentou... Trabalhou em silêncio a tarde toda.

No dia seguinte, Lucila estava um pouco menos mal humorada... nada do mané... ainda bem!!! Lucila definitivamente tinha implicado com o coitado do rapaz.

Contudo, no final do dia, Lucila teve uma surpresa, não muito agradável. Era o cúmulo da manezice, a confirmação de que realmente o cara era um nerd nato. Recebeu uma correspondência, quando abriu o envelope, uma surpresa: era a imitação fiel de uma intimação judicial, inclusive com os carimbos e demais formalidades e carimbo oficial (sabe-se-lá como foi arranjado), “intimando” Lucila pra ir almoçar com o Mané do escritório da frente no dia seguinte!!

Aquilo foi demais. Lucila não era uma pessoa ruim. Mas aquilo era demais!!! No ato, pegou o telefone e contou a mentira mais cabeluda que veio à sua cabeça, disse que era casada e tralalá...

Logo José Carlos passou num concurso público e Lucila nunca mais teve que olhar pra cara dele.

2 comentários:

Marihelen disse...

Cara! Na Boa! Eu teria ido almoçar com o Mané depois dessa! Lucila sem coração!

Anônimo disse...

Pô, imagine o trampo que não deu o cara fazer a intimação. x;