segunda-feira, 10 de novembro de 2008

MENSAGENS - Parte I

Lucila estava numa boa fase. Depois de quase se afundar num poço sem fundo depois de seu último romance, conseguiu se reerguer e estava tendo um saudável affair com o misterioso Tinho.

Embora fosse primo de Juliana, esta nada ou quase nada sabia sobre o cara, que sempre foi muito misterioso e levava uma vida dupla: workaholic ao extremo e boêmio inveterado... Ao mesmo tempo!!! O cara simplesmente não dormia! Quando não ficava até altas horas no trabalho, estava na balada. Ou em algum outro local que não a sua casa nem o trabalho.

Tinho, além de misterioso, era cercado de coisas esquisitas. Era magro, mas já tinha sido gordinho e por isso ainda achava que era gordo, assim sempre usava roupas esquisitas, meio largas... Ao mesmo tempo era extremamente preocupado com a sua aparência e ainda por cima tinha um cachorrinho bichon frisé.... hmmm... Além disso, Lucila tinha conhecido Tinho num evento nada convencional para conhecer gatinhos: num velório! Afinal, Juliana não podia perder a oportunidade de apresentar o seu ÚNICO primo bonito à sua melhor amiga, e tentar salvá-la daquela fase deprê.

Tudo isso levantava altas suspeitas sobre a verdadeira personalidade do primo misterioso... Seria ele vampiro?? Mulherengo?? Tinha uma amante velha e rica?? Seria gay??

Bom, de qualquer modo, as coisas estavam indo muito bem. Estavam bem na fase quando tudo é lindo, mensaginhas bonitinhas pra cá, emailzinhos pra lá... telefonemas no meio da tarde... Tudo super água com açúcar, mas era o que Lucila precisava pra levantar seu ego.

E esse chove não molha estava sendo ótimo, pois ao mesmo tempo em que estava neste clima de romance, podia sair com as suas amigas e não precisava dar satisfações a ninguém.

Eis que numa noite dessas de baladinhas lights com as amigas e que Juliana não podia sair, Lucila saiu despretensioamente com Clara, afinal precisam comentar sobre a história que denominavam “episódio primo da Ju”. Foram num bar super tradicional, e quando entram Lucila dá de cara com Tinho, sentado numa mesa com mais um cara (seria ele o amante gay?).

Lucila – Clara!
Clara – o que foi?
Lucila – Guriaaaa, o Tinho tá aí!!!!
Clara – Que Tinho sua doida?
Lucila – O primo da Ju q eu to pegando... que ta me pegando... ou vice-versa.. tanto faz... ai e agora?
Clara – Guria aondeeeee? Me mostra que eu quero vê-lo, afinal não o conheço ainda.
Lucila – Cala boca sua louca... ele vai ver que estamos falando dele! Ele tá ali... exatamente ali (apontando com o nariz para a mesa de Tinho já que não podia fazer um escândalo no meio do bar, senão ele a veria com certeza absoluta).
Clara – vai lá falar com ele!
Lucila – Ta louca? Deixa ele me ver...

Lucila então resolveu que não ia falar com ele... Afinal, ele que TINHA que ir falar com ela. Não que tivesse algum problema... Era puro orgulho mesmo.

Enquanto elas esperavam por uma mesa, Lucila posiciona-se de costas (seu melhor ângulo) para a mesa de Tinho, com o intuito que este a visse e fosse falar com ela. Clara concordou que mais cedo ou mais tarde ele a veria e iria falar com ela.

Clara ia narrando todos os movimentos da mesa de Tinho, já que Lucila estava de costas. “Agora, eles estão comendo... acho que estão comendo nachos... e estão tomando cerveja...”. “Agora o amante gay do Tinho levantou-se e foi ao banheiro... pelo menos não foram ao banheiro juntos, né??”. Agora Tinho pediu a conta ao garçom...”. “Agora o amante gay voltou à mesa... Tinho está conversando com ele e gesticulando a mão direita...” O garçom trouxe a conta”. Ele ainda não olhou pra cá”. “Hmmm... eles estão dividindo a conta... pelo menos quando ele sai com você ele paga a conta inteirinha, né??? Um pra você e zero pro amante gay”. “Lucila , eles estão levantando... deixa eu disfarçar... vão passar exatamente aqui e ele vai te ver... SE PREPARA!!!”.

E então as duas disfarçaram, ambas olharam pro outro lado. E quando olharam de novo, Tinho já tinha saído... sem falar com Lucila!!!!! As duas concordaram que era muito difícil (na verdade quase impossível) que Tinho não tivesse visto Lucila, pois passou exatamente ao seu lado... Mas ficaram na dúvida, pois nenhuma das duas estava olhando pro lado dele quando ele passou.

Por coincidência, elas foram colocadas na mesa que estavam Tinho e o desconhecido. Lucila acaba se arrependendo de não ter ido falar com ele, mas agora já era tarde... Resolve ligar pra ele e perguntar se ele não tinha visto ela e Clara no bar.

Ligou, mas deu uns dois toques e caiu na caixa postal. “Droga”. Ligou outra vez. Mesma coisa, dois toques e caixa postal. Isso significava que Tinho via que Lucila estava ligando, mas ignorava chamada. “DROGA, DROGA, DROGA!!!”.

Lucila detestava ser ignorada. Era a pior coisa que alguém podia fazer com ela. Ela ficava simplesmente fora de si quando era ignorada!!!

“MIL VEZES PQP. Quem esse Tinho pensa que é pra me ignorar deste jeito??? Passar por mim, não falar comigo e ainda não atender minha chamada???? Estou com muito ódio dele, ele vai ver só...”.

Enquanto Lucila tinha esses pensamentos negativos sobre Tinho, escrevia uma mensagem de texto pra Juliana. “A Juliana tem que saber o que o priminho misterioso dela aprontou!!! Esse Tinho vai ver só uma coisa, quem vai ignorar quem...”.

E mandou a mensagem que escrevia enquanto resmungava sua ira contra Tinho.

Escreveu em letras garrafais para a Ju: “Guria, você não vai acreditar. Encontrei o Tinho-Babaca, ele passou por mim e não me cumprimentou. E depois eu liguei pra ele, o cel dele estava ligado, mas ele não me atendeu, acredita???? Estou p... da cara! Esse seu primo é muito babaca...”.

“Mensagem enviada”. Lucila sentiu-se bem mais aliviada depois que mandou a mensagem. Aí sim pôde saborear de verdade a cerveja junto com Clara.
(continua)