sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

TIRANDO A URUCA

Lucila não agüentava mais aquela fase de marasmo. Já fazia dois meses do término do seu último namoro e embora estivesse saindo muito e indo em todas as baladas possíveis, ainda não tinha beijado ninguém... não estava pegando nem gripe...não estava chovendo na sua horta... o mar não estava pra peixe...

Verdade verdadeira é que hora ou outra aparecia um gatinho aqui, outro acolá pra conversar com Lucila, mas ela estava numa fase exigente e queria “tirar a uruca” com alguém que valesse a pena. Ou seja, sempre acabava arranjando mil e uma desculpas pra não ficar com alguém: ou o cara era feio, ou tinha furinhos na bochecha, ou era careca, muito alto, muito baixo, muito barrigudo, ou só falava de futebol, ou tinha mão pequena, ou tinha cara de periquito... enfim, os caras sempre tinham alguma coisa que desagradava Lucila. E Lucila tinha um péssimo hábito de criar “ascos” pra certas coisas. Quando implicava com uma coisa, era difícil fazer Lucila parar de pensar naquilo.

Muitas baladas depois, bem num dia em que Lucila não estava nem aí, resolveu ir papear num boteco com uns amigos, o papo tava bom, o chopp era em metro, música ao vivo, quando notou um ser olhando pra ela duas mesas atrás da sua. Lucila fez seu olhar “da cabeça aos pés” pra analisar melhor a mercadoria: “hmmm... bonito de rosto, cabelo com mullets - ADORO MULLETS, corpitcho enxuto, roupa bacana...”. Lucila estava entusiasmada até aí, mas quando chegou nos sapatos: “e... sapatos de Aladim!!! Ah não!!!! Taí uma coisa que me dá asco!!”. Logo lhe veio na cabeça aquela imagem do grupo Lokomia... Olhando mais detalhadamente, viu que a coisa ainda era pior: “sapato preto e meias brancas... affffe”.

Lucila então começou a entoar mentalmente o velho mantra de sua mãe (“você não pode ser tão exigente e blá blá blá”) e tentar afastar a imagem do grupo lokomia de sua mente. Continuou olhando o carinha, embora evitasse olhar pros seus pés. E o menino olhava, olhava... e não ia nunca falar com Lucila, num comportamento típico curitibano.

Alexandre e Eduardo, os amigos que estavam na mesa com Lucila logo perceberam os olhares entre Lucila e o carinha dos mullets (pra não dizer carinha dos sapatos de Aladim) e quiseram queimar o filme de Lucila, abraçando-a, pegando na mão dela... “Ai, meninos, assim o carinha nunca vai vir falar comigo e eu vou ficar urucada pra sempre!!!”, mas Alexandre que se autodenominava irmão mais velho de Lucila foi logo dizendo que o cara era feio, gay, etc... e quando Lucila comentou sobre os sapatos de Aladim então a coisa ficou pior... As críticas eram muitas, mas Lucila não se deixou abalar e continuou olhando pro gatinho dos mullets, numa tentativa de acabar com a sua má fase de vez!! Quando viu que a coisa não tinha fim e os seus amigos estavam cada vez mais avacalhando com o carinha, Lucila resolveu ir ao banheiro, tendo que fazer o sacrifício de passar na frente do gatinho.

Quando saiu do banheiro, o carinha estava esperando por Lucila em frente à porta, aproximou-se e disse:

Carinha dos mullets: Puxa, até que enfim consegui vir falar com você longe daqueles caras... São seus seguranças? Ou algum deles é seu namorado?
Lucila: Não, são só meus amigos.
Carinha dos mullets: Ufa, q bom, era tudo o que eu queria ouvir...

E papo vai, papo vem... O nome do carinha era Leonardo, engenheiro, 25 anos (isso mesmo, 4 anos mais novo que Lucila, mas nenhum dos dois se importou com isso), um cara realmente interessante, inteligente, com umas sacadas diferentes... E Lucila não resistiu... acabou se dando bem (até que enfim), e finalmente TIROU A URUCA!!! Nem lembrou mais dos sapatos. O carinha pediu o telefone de Lucila prometeu ligar no dia seguinte cedo pra desejar um bom dia.

E passou o dia todo e nada do menino ligar... Mas no final da tarde, eis que liga um número diferente no celular de Lucila e, pra seu alívio, era Leornardo, dizendo que não tinha ligado pra dar bom dia, mas estava ligando pra dar boa tarde e tal... com uma conversinha toda melosa, até que caiu a ligação... Lucila tentou ligar no número que ele tinha ligado, mas dava caixa postal... alguns minutos depois, Léo liga de novo:

Léo: “Poxa, Lú, não precisava desligar na minha cara”.
Lucila: “Não, a ligação caiu, tentei retornar, mas deu caixa postal”.
Léo: “Ah, é que este telefone é da empresa que eu trabalho”.
Lucila: “Ah... achei que vc ia me dar seu telefone hoje...”
Léo: “Não, pra ganhar meu telefone vc tem que merecer... já posso dizer que vc já conquistou 70%... mas ainda falta um pouco...”

Lucila, achando super estranho este papo... como assim??? Merecer o telefone do cara??? Mas deixou por isso mesmo... pois tinha certeza que desta vez estava fazendo tudo certo e “merecia” o telefone do Léo.

Despediram-se no telefone e Léo disse que ligaria no dia seguinte para combinarem algo. Mas... acabou não ligando nunca mais...

Mais uma vez Lucila quebrou a cara, mas o que importava mesmo era que tinha tirado a uruca e agora as coisas iam melhorar pra ela!! Será??

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